segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Felis silvestris catus


Laura ainda não entende nada e nem sei se um dia entenderá coisa alguma. Alguma coisa que vá além dos seus impulsos, de comer, de dormir, de morder os meus pés, de rolar pelo chão, de caçar mosquitos e de fazer cocô e xixi na caixinha dela com areia especial. Laura nunca lerá este texto e por isso escrevo pra mim mesmo,em voz alta, chiando nas letras que batem na língua, de maneira que ela não tire os olhos vesgos de cima de mim.


Ela já sentiu que existe uma outra realidade para longe dos muros da minha caverna urbana: sons que invadem o apartamento e o que antes eram sombras nas paredes, transfomaram-se em estranhos objetos móveis nas noites do caloroso verão – assusta-se e pula de volta para o chão após escutar o freio ruidoso do ônibus. O mundo não corresponde mais somente a superfície da mesa, a altura mediana da cadeira, o apoio do sofá e as prateleiras com os livros e discos. Agarra-se nas beiradas e tenta ir além dos limites do apartamento. Observa a porta de entrada escondida entre os sapatos por ali guardados, na primeira oportunidade arrisca-se em fuga. Deixo a pressa e corro em seu resgate.


Em casa tem água, comida, diversão e carícia. Seu instinto felino não compreende gratidão, age como os da mesma espécie. Essa constatação me causa uma certa curiosidade: como pode ela que não conhece outros como ela, como que pode?, como que pode ser como todos os outros gatos são?


3 comentários:

Joana Rabelo disse...

Adorei....

e fiquei com vontade de fazer um tambémm... rsr

Adriana Godoy disse...

Rafael, após longa convivência com meus dois gatos(11 anos) posso dizer que eles são assim mesmo. Mas esa história de que não se apegam a ninguém é falsa.

Esses bichinho são seres especiais e a cada dia vc descobre algo que não entende. E a cada dia vc sabe que eles têm a medida certa.


Adorei o seu texto.


Beijo

Adriana Godoy disse...

Digo, essa história...

raso

qual atalho, uma curva pro caminho do sossego - mas no fundo é raso; água bate no joelho nada - não é nada nunca foi tão fácil contud...