raso

qual atalho, uma curva
pro caminho do sossego -
mas no fundo
é raso;
água bate no joelho
nada - não é nada
nunca foi tão fácil
contudo, calo
ressoa
o som da minha voz...
não sabe, o gato,
andar na linha
desliza linha, desaba e
cai
fim da linha
um ponto, um nó, um calo -
um só.
já sei, já saio
por aí, desmedida voz
anseio andarmos por aí
e nos encontrarmos sós.

tudo que é dito
- posto no mundo -
ecoa pra sempre
mesmo quando
todo mundo
mudo

em brasa rasa

não há fogo que se levante

ficou parado bem
no meio do caminho
sem palavras e sem jeito
de por
os pingos
nos is

acumulador
de termos inauditos
- objetos indiretos
jogados
no canto
da garganta

orações

desarticuladas

na ponta

da língua

seca

.

dois mil e dezenove

aprendi a arrotar

em janeiro deste ano

aos 35

foi quando rasguei tudo

religião solidão

caminho

não via a cidade

invisível

perdido em devaneios

desejos

ao engolir o mundo

suspenso

já não falam mais
as paredes em
vigílias riscadas
nas noites profundas

d'aljube escuro e
fundo, mais profundo
ecoa longe o
côncavo silêncio