Ela era obtusa. Pra tudo tinha uma explicação que achava congruente ao ponto de se submeter a situações um tanto perpendiculares. Não foi diferente quando Nestor resolveu procurá-la a fim de dar umazinha, fora direto ao termo e repetiu a proposta: por que não damos umazinha hoje? - Anhaia não respondeu que sim nem que não, depois de ter ficado boquiaberta quando no primeiro momento o rapaz propusera a questão. Consentiu com a cabeça após uns silenciosos vinte e três segundos, figindo refletir se valeria a pena ou não trepar com o ex. Ele não viu a reação dela, apenas escutou o “sim” após leve sonoridade que parecia ser a respiração da moça.
Os dois se entendiam muito bem na cama, no chão e na pia. Quatro anos - tanto tempo de casamento tem sua vantagem, o longo período permitia o despudor, coisa que nenhuma foda perdida entre boate, mercado, trabalho, praia e trânsito possibilitaria. As noites de sexo ao acaso até poderiam ser gostosas, mas pra Anhaia nada era melhor do que o seu querido pinto domesticado que cabia perfeitamente em sua boca e que com gosto provocava a sua boceta.
A relação começou a degringolar quando os dois refletiram que precisavam ter novas experiências - vivendo outros corpos, abrindo a relação pra conhecer novas pessoas. Procuravam dessa forma saber se um sentiria falta do outro. Achavam-se novos demais, estavam nadando num rio caudaloso e profundo; achavam que poderiam ainda viver muitas outras pessoas, muitas outras bocas. A elasticidade do amor não suportou tamanha extensão, vindo a romper quando Anhaia se viu enlouquecida com o tamanho do falo do colega de trabalho, Humberto - pertencia ao RH da empresa de telemarketing onde ela era represetante de serviços.
Foi sob justa causa que terminou a aventura com Humberto, quando Anhaia fotografava o membro rijo dele na escada de incêndio que dava pro terceiro andar. Temendo macular a carteira de trabalho, o colaborador exemplar do RH deu uma determinada quantia ao segurança Jorge. Como Anhaia já tinha rapado o cheque especial pra dar de entrada na câmera digital, acabou não podendo subornar o funcionário. Nesse mesmo dia, após tomar conhecimento de que sua esposa mantinha um amante fixo há mais de três semanas, Nestor propôs que dessem um tempo na relação. Anhaia não teve forças pra contestar. O rapaz não tolerou o espanto da mulher, era humilhante pensar que a esposa não estava bem servida em relação ao tamanho do seu pau - quanto a isso tinha conciência de que nada poderia fazer; era bem verdade que o marido não tinha um dote desses que pudesse tirar onda ao desfilar nos domingos de praia com a desfiada sunga verde desbotada.
Segundas sucederam segundas, domingos a domingos. Anhaia não saia e nem postava mais nada em seu fotolog de putaria, canal utilizado com o intuito de angariar parceiros. Tentou em vão encontrar alguma amiga da época em que ainda era solteira e frequentava os bailes da boate Arraso (“lugar de gente bonita” - essa inscrição ficava na fachada, debaixo do nome da casa de entretenimentos). Josi estava casada e esperava o primeiro filho. Amanda não morava mais na cidade e o seu perfil no Orkut constava que agora trabalhava pra Jesus. Priscila morreu de aneurisma - Joyce contou que todo mundo sabe que na verdade ela teve foi complicações do HIV, “a família tenta porque tenta abafar essa informação”. Joyce era a única remanescente, porém Anhaia não tinha a menor paciência com a fofocaria dela. A antiga ironia da amiga virara um sarcasmo intolerável, prova de alguma frustração. Andar com gente de língua grande e venenosa seria risco certo de ficar muitos anos sem trepar e como consequência, morar pra sempre com a tia mais velha da família.
Anhaia estava enviando currículos por e-mail quando o telefone tocou.
Nestor fodia bem. Anhaia pediu pra que ele esperasse por ela, chegaria em menos de duas horas - prazo razoável pra tomar banho (raspar as partes com um velho barbeador rosa de giletes gastas que sempre deixava sobre o basculante do banheiro) e esperar o ônibus. Do seu apê ao apê do rapaz levaria quarenta minutos.
7 comentários:
MUITO BOM!
Essa Anhaia num tem jeito... piriguétchy.
hehe!
Adorei!
Sua perspectiva sobre os fatos é bastante interessante. Escrita leve...
Gostei muito do modo como escreve.
Poderia investir nisso!
Beijos!
Adorei! Beijo
Ótimo nome pra protagonista, ótimo jeito de descrever os relacionamentos, me lembrou muito o Marcelo Mirisola, de "Fátima fez os pés para ir à choperia". Beijos, adorei!
ah, é verdade essa do Mirisola! Esse livro é bem bacana!
Postar um comentário