quarta-feira, 13 de agosto de 2008

10 (...exercício mentais...)

Lá está o barco. Eu cá. Espero. Cheiro de maresia, tempo virando; é chuva. Chuva pra madrugada. E eu cá, esperando. Sempre deixei claro que não poderia, não deveria, mas quis e fez e eu nada, sem contradizer. Vejo o barco se aventurar entre ondas e gaivotas, o vento ficando mais forte e me deixo. Bichinhos brincam entre os meus dedos dos pés e eu deixo e sorrio, fazem cócegas. Daqui a pouco o mar começará a me puxar e eu não serei mais para mim. Meus cabelos cansados largam-se e dançam ao som. Nuvem cinza distante, chuva no canto do lá, alto-mar, quase oceano. E ele navega em seu barquinho, vai, nada. Ficarei por aqui, debaixo d'água, onde minhas lágrimas confundem-se. Cavalo-marinho passeia pelas veias do meu corpo, alegre. Estrela-do-mar, estrela que caiu do céu e deu n'água salgada; enfeite-me, embeleze-me, faça-me dele, daquele que vai. Barco sem vela, barco a motor, barulhinho ritmado, música em harmonia com o galope do barco a cortar a correnteza. Volta, volte, vem. Alga, alga; sempre gostei da palavra algo. Abro a minha boca para entrar, vem. Deito e vou e venho e vou e venho. Areia branca novamente. A maré me deixou, me deitou na beira. Água do céu molha meu corpo. E eu pensando nele que ainda não chegou. Percorri todo o futuro por aqui, longe é um lugar que não existe. Estou. Fico. Espero. Concha.

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raso

qual atalho, uma curva pro caminho do sossego - mas no fundo é raso; água bate no joelho nada - não é nada nunca foi tão fácil contud...