Como já disse, sou uma pessoa boa. Boa. Boba muitas vezes, cabe um pouquinho de bobeira na bondade, andam juntas e é quase a mesma coisa. Mas é bom ser bobo e bom. Sou. Ontem peguei um ônibus qualquer e me perdi num bairro longe, quase uma outra cidade, mas era a mesma. Por lá roubei umas flores amarelas, daquelas que quando criança levamos à boca e sugamos o néctar. Não lembrava que era tão doce e pouco, imagina!, tinha em minhas lembranças algo como um riacho, queda d'água. Para quem já foi beija-flor qualquer pouco é muito; e eu fui. Batia minhas asas e em poucos minutos já estava em outra paisagem, catando doce em diversas bocas. Era só. Eu e a flor, eu e as flores que beijava. Gostava. Cresci e não consigo mais bater minhas asas, esses meus membros se atrofiaram e sumiram, aos poucos enquanto me desenvolvia fui deixando de usá-las e perdi. Ele me diz que é normal, não dá para ser beija-flor a vida inteira. Veja bem, nunca vi esses passarozinhos estatelados no chão, morto, mortinho. É claro que não!, é porque ele cresce e aparece, risos, as asas voam e nos deixa na vontade, na impossibilidade de ir além. Voar é muito perigoso. Viver também, li isso em alguma flor, ou ela me falou, já não lembro muito bem. Quero que você saiba, repetirei, sou uma pessoa boa. Boa até demais, não me importo que passem por cima de mim, gosto de ver a cara, o gesto, atitude; tentar descobri se esse que me maltrata tem consciência do que está fazendo. Muito zelo. Acho que não sou tão boazinha não, se eu sei que um outro me maltrata e nada falo, me maltrato ou maltrato outrem, porque às vezes a pessoa não tem consciência do quanto é insensível. Ela precisava escutar isso: Você é insensível! É, acho que não sou tão boa assim não. Sou perversa e cruel. Uma pena, pois logo agora que... melhor calar. Você.
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