Foi de manhã. Agora já é tarde. Qualquer coisa que for feito não consolará a falta do que não esteve em atenção. É tarde. Tem o frio. Tem o vento. As janelas que balançam e criam fantasmas assustadores. Escrever. Escrever. Escrever sobre o medo disso que não sei. Estou só com uma caneta de tinta azul, um pequeno bloco de folhas encardidas. Escrevo. É preciso estar, somente estar; se quiser dormir, que esteja antes. Confundir a primeira com a terceira. Foi, deitou, fechou os olhos, talvez para sempre. Não. Foi, deitou e ficou olhando para o teto. Tudo e nada. Tudo estava por lá, várias sombras, mas ali não eram nada. Era preciso ir lá fora e averiguar se as árvores balançavam mesmo ou se era alguém tentando invadir o espaço que era seu. O quarto. A sala, estava já, de pé com uma faca em mãos. Pé, pé, pé. Ninguém. Pé, pé, pé. Abriu a porta. Silêncio. Ninguém. Ar em movimento. Pé, pé, pé, pé, pé,pé. Quarto, cama, fechar os olhos. Mais um dia que estava a esperar e nenhuma pessoa apareceu. Era seu medo e sua necessidade. Melhor fechar os olhos e quem sabe sonhar, lá sim, haverá retorno. Quero viver aquilo que não pude e crio como se fosse possível. Retorno do recalcado. Lá fora nuvens, não vejo, ouço, escuto cada nuvem que chega, que vem chegando, vento mais forte. As sombras me consolam, crio duplos. Sorrio com o que vejo-não-visto. Eu vou lembrar! Eu vou lembrar! Eu vou lembrar! Amanhã o galo cantará as cinco horas da madrugada, às vezes cinco e trinta; mas canta. Eu escuto.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
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