segunda-feira, 30 de abril de 2007

FUBÁ SEM LEITE

acordei com fome e talvez fique assim uma boa parte do dia. não porque quero; simplesmente por nada ter na geladeira. na verdade tenho sim, poucas, mas alguma coisa. podia fazer um fubá, mas se o fizesse ficaria sem o leite e sem o leite não teria nada mais para misturar ao café, e café sem leite não conseguiria tomar.
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não sairei de casa; não quero sorrir, na verdade nem posso sorrir, não posso ficar por aí desperdiçando o pouco de energia que me resta. tenho que parar de pensar nisso tudo, pois também é uma forma de gastar... não pensar. não tenho sono para voltar a deitar, e dizem que fome dá sono... estou apático, não com sono. melhor encostar novamente a cabeça no travesseiro. talvez melhor morrer. mas não é o que quero! desejo neste momento apenas não fazer nada ou nada fazer, não gastar energia. não, nada, mais.
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mais uma vez levanto para ir ao banheiro, não entendo, nem tomo tanta água assim, daqui a pouco cai pedra. do banheiro posso escutar todo o prédio, a essa hora a criança que mora lá para cima já deve estar no recreio em sua escola. um rádio toca louvores ao senhor acompanhado por barulhos de panelas e um cheiro forte de alho refogado, lá em casa mamãe fazia umas comidas tão bem temperadas... fiz meu xixi sentado, com a cabeça escorada em meus braços que ficaram apoiados em minhas pernas e voltei para cama.
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moro num conjugado no bairro do catete, é só cama num pequeno espaço, uma pequena-minúscula cozinha e um banheirinho, tem um janela que dá para o respiradouro do prédio, vez em quando aparece um gato por ali que fica me encarando ou então encostado no vidro da minha janela, moro no primeiro andar, embaixo fica a portaria. é primeiro andar quase segundo mas é primeiro.
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fui puxar a respiração e veio uma meleca enorme tocar minha garganta, que nojo! deve ter proteínas. minhas articulações doem, tudo em mim dói, meu cérebro pesa sobre minha cabeça, digo, dentro de minha cabeça. encosto minha testa na parede branca e arrasto de um lado para o outro para ver se alivio a dor. tudo treme. mas a dor não vai embora. minha dor continua a pulsar dentro do meu crânio. e essa fome que não passa, nunca passará, passará sim se for saciada. mas não tenho dinheiro para me alimentar, na verdade até tenho mas se usar não poderei ir a faculdade amanhã.
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melhor fazer fubá sem leite. no café pingo umas gotas do leite. mas também se não tomar o leite poderá estragar e estragando aí sim que não tomarei mesmo o leite.

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raso

qual atalho, uma curva pro caminho do sossego - mas no fundo é raso; água bate no joelho nada - não é nada nunca foi tão fácil contud...