sexta-feira, 21 de agosto de 2015

iluminação


pela primeira vez olhou para o sol. caminhando, perdido, vagando sem um destino preciso. naquele momento, seu corpo entregue a uma silenciosa perturbação, contemplava o disco solar, e, como que diante de uma força superior, rogou por um milagre. num instante, que poderia ter sido uma eternidade, lembrou do alimento milagroso que o povo israelita recebera de javé enquanto peregrinava rumo a terra prometida. há dias em solidão e silêncio. há algumas horas em solidão e silêncio. 40 dias perdido - não existe noite pra quem caminha pelo deserto. sabia-se apenas ali, naquele momento, entregando-se a insolação, o corpo inerte na areia, olhos abertos em miração. pela primeira vez olhou para o sol e rogou por um milagre. o maná do deserto. “Eloi, Eloi lamá sabactani? Aceito a morte, se assim tiver que ser, mas pra ti que tudo é possível, imploro por um milagre! Genetheto to théléma sou.” contemplou a luz e o calor. por entre suas pernas surgiu um escorpião. via sem ver. sentiu o  toque do ferrão do animal peçonhento em seu corpo. uma tempestade de areia modificou o cenário. o homem deitado no chão do deserto. o corpo inerte, olhos abertos, vazios. anos se passaram. o homem, o homem, sua pele morta, os olhos vazados. a terra engolia em sucessivas ventanias, o corpo inerte, maculado pelo tempo. o couro curtido, a pele vazia. a areia do deserto.



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