quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

o faroleiro - III

O mundo é a extensão do meu olhar e um pouco além para onde o dedo avança. À noite vejo mais: quando a luz do farol acaricia a textura da água, quando o mar numa gostosa calmaria e o espelho reflete as luzes do céu. Perco a estabilidade, a certeza, o centro; sem saber se o que vejo é o manto do universo furado: estrelas e outros astros noturnos - misteriosas luzes que passam revelando o fogo do outro mundo; ou a imensidão do oceano em sua silenciosa revolta.
Noite, colcha velha roída pela traça, esgarçada na rotina das horas, amarrotada na torção das nuvens, desbotada com o suor da insônia.
Abro uma das garrafas de vinho – tenho algumas por aqui, armazeno-as no porão, entram escondidas, contrabandeadas quando o navio vem abastecer a ilha. Passo a madrugada bebendo do néctar, do mais puro néctar. Beijo a garrafa contemplando a dança dos bichos marinhos. Acordo com a lambida lânguida dos primeiros raios de sol.


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raso

qual atalho, uma curva pro caminho do sossego - mas no fundo é raso; água bate no joelho nada - não é nada nunca foi tão fácil contud...