terça-feira, 5 de janeiro de 2010

10

Lá está o barco. Eu cá. Espero. Cheiro de maresia, tempo virando; é chuva. Chuva pra madrugada. E eu cá, esperando. Sempre deixei claro que não poderia, não deveria, mas quis e fez e eu nada, sem contradizer. Vejo o barco se aventurar entre ondas e gaivotas, o vento ficando mais forte e me deixo. Bichinhos brincam entre os meus dedos dos pés e eu deixo e sorrio, fazem cócegas. Daqui a pouco o mar começará a me puxar e eu não serei mais para mim. Meus cabelos cansados largam-se e dançam ao som. Nuvem cinza distante, chuva no canto do lá, alto-mar, quase oceano. E ele navega em seu barquinho, vai, nada. Ficarei por aqui, debaixo d'água, onde minhas lágrimas confundem-se. Cavalo-marinho passeia pelas veias do meu corpo, alegre. Estrela-do-mar, estrela que caiu do céu e deu n'água salgada; enfeite-me, embeleze-me, faça-me dele, daquele que vai. Barco sem vela, barco a motor, barulhinho ritmado, música em harmonia com o galope do barco a cortar a correnteza. Volta, volte, vem. Alga, alga; sempre gostei da palavra algo. Abro a minha boca para entrar, vem. Deito e vou e venho e vou e venho. Areia branca novamente. A maré me deixou, me deitou na beira. Água do céu molha meu corpo. E eu pensando nele que ainda não chegou. Percorri todo o futuro por aqui, longe é um lugar que não existe. Estou. Fico. Espero. Concha.



2 comentários:

Adriana Godoy disse...

Ei, Rafael, lindo texto. Me identifiquei de cara. Beijo.

Anônimo disse...

Estuve navegando por aqui Rafael. Lindo, lindo, Beso

Dani(lucre)

raso

qual atalho, uma curva pro caminho do sossego - mas no fundo é raso; água bate no joelho nada - não é nada nunca foi tão fácil contud...