Achando que o outro não o tivesse visto, evitou virar a cabeça e continuou o seu caminho. Não é que não queria falar, estava cansado e com dor de barriga - tinha pressa. Pensou em telefonar assim que colocasse os pés em casa, não, assim que fizesse o que a urgência o obrigava. Sim, ao sair do banheiro, foi até a sala, posicionou a cadeira de plástico branco ao lado da mesa do telefone e calmamente levou o fone ao ouvido esquerdo. Sentiu um certo desequilíbrio, preferiu trocar de ouvido e com a mão esquerda discou os números. Um toque, dois toques e nada. A culpa pelo ocorrido o deixou preocupado. Era preciso conversar, explicar os fatos, deixar claro que não foi por mal, que havia uma necessidade e que, se parasse para conversar, sabe-se lá o que poderia ocorrer no meio da rua. Deixou passar alguns minutos e retornou a tentativa de contato, sem sucesso. Uma hora passou, dessa vez escutou um "alô?". Falou tudo, desabafou, pediu desculpas. A pessoa que estava do outro lado, apenas ouvia e tentava interromper o monólogo. Quando parou para buscar mais ar, escutou, "Mas eu também, eu te vi, estava correndo. Você não imagina, comigo também ocorreu a mesma coisa. Deve ter sido aquele acarajé que comemos ontem."
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